Consultor Jurídico

terça-feira, 4 de abril de 2017

LIMINAR EM HC - TRÁFICO DE DROGAS - CO-AUTORA - CONFISSÃO AUTOR - PRIMARIEDADE - BONS ANTECEDENTES


Habeas Corpus Criminal
4ª CÂMARA CRIMINAL
Nº 1.0000.17.024897-5/000
Nanuque
Paciente(s)
TAMYRES GOMES DE CASTRO
Autori. Coatora
JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL, CRIMINAL E DE EXECUÇÕES PENAIS DA COMARCA DE NANUQUE
Interessado
NADSON GONÇALVES DE JESUS LIMA


DESPACHO

Vistos.
Trata-se de Habeas Corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de Tamyres Gomes de Castro, presa em flagrante delito por ter supostamente cometido o crime previsto no art. 33, caput, da Lei 11.343/06, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Nanuque/MG.
Alega-se, na impetração, que a paciente não participou do delito, achando que o propósito da viagem era a compra de roupas, visto que ela trabalha vendendo roupas. Aduz que o flagranteado Nadson Gonçalves de Jesus Lima, preso junto com a paciente, assumiu a autoria do delito e a propriedade da droga, inclusive informando aos policiais “o itinerário da compra da droga informando o vendedor (Renato), o valor pago (R$ 5.000,00) e o local (Rua Guarani) onde adquiriu as drogas” (f. 02).
Afirma que a decisão que converteu a prisão em flagrante do paciente em preventiva carece de fundamentação idônea, visto que apontou apenas a grande quantidade de droga encontrada e a gravidade abstrata do delito, não tendo individualizado a conduta da paciente e suas condições pessoais favoráveis.
O impetrante pondera que a paciente é primária, possui bons antecedentes, trabalho lícito e residência fixa.
Com isso, se condenada, a sua pena de privativa de liberdade seria substituída por restritivas de direito, fato este que torna a sua segregação medida desproporcional. 
Ao final, requer o deferimento da liminar e, no mérito, a concessão definitiva da ordem com a expedição do competente alvará de soltura.
Decido.
Ao exame dos presentes autos e do que nele consta, verifica-se que a paciente foi presa em flagrante delito, na data de 02 de março de 2017, pela suposta prática do crime de tráfico de drogas, tendo o referido flagrante sido realizado diante diligência policial que visava averiguar denúncia anônima recebida, a qual informou que dois indivíduos, sendo um homem e uma mulher, identificados como a paciente e Nadson Gonçalves de Jesus Lima, iriam embarcar em ônibus em Belo Horizonte/MG com destino à Nanuque e que estes possivelmente estavam transportando drogas.
O policial condutor do flagrante informou que a paciente e Nadson são conhecidos no meio policial pelo tráfico de drogas (f. 10). Na sequência, os policiais militares se dirigiram ao bairro UDR onde a paciente e Nadson residem, abordando-os quando estes desembarcaram do ônibus.
Durante busca pessoal, foi encontrada na mochila de Nadson uma barra de substância semelhante à “crack” pesando aproximadamente 500g. Em seguida, Nadson assumiu a propriedade da droga, informando que comprou a referida substância em Belo Horizonte por R$ 5.000,00 e que com a venda aferiria um lucro de R$ 7.000,00.
Entretanto, devido as versões contraditórias apresentadas sobre o paradeiro da paciente (se estava em Belo Horizonte ou se não estava) e por estar esta junto com Nadson foi dada voz de prisão a ambos.
O laudo toxicológico preliminar de f. 37 constatou que as substâncias encontradas tratam-se de 514,70g de cocaína.
Lavrado o flagrante, ouvindo-se as testemunhas e acostada folha de antecedentes, foi ratificado pela autoridade policial, que pela decisão de f. 46/47, converteu a prisão em flagrante em preventiva, sob a necessidade de garantia da ordem pública, apontando a grande quantidade de entorpecentes apreendida. 
Entretanto, observa-se das declarações prestadas pela paciente às f. 16/17, que esta informou que nada sabia sobre as drogas apreendidas, tendo seu marido, Nadson, lhe dito que eles iriam viajar para Belo Horizonte para comprar roupas, visto que a profissão da paciente é vender roupas. Nadson, por sua vez, em suas declarações prestadas no APFD, f. 14/15, corroborou as referidas alegações da paciente, inclusive assumindo a propriedade das drogas e contando aos policiais detalhes de onde as adquiriu, o preço que pagou por elas, quanto esperava ter de lucro e que como iria comercializá-las.
Os elementos dos autos indicam, ainda que a priori, a presença dos requisitos que justificam a concessão da liminar, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora, sem prejuízo de melhor análise por ocasião do mérito, tendo em vista que as circunstâncias de fato e direito deduzidas da presente impetração indicam a probabilidade de dano irreparável e da existência do direito pleiteado pelo impetrante, haja vista que o outro flagranteado Nadson assumiu integralmente a autoria do delito, além do fato de ser a paciente primaria.
Por tais fundamentos, defiro a liminar.
Determino seja expedido o competente alvará de soltura em favor da paciente, se por outro motivo não estiver presa.
Solicitem-se as informações da autoridade apontada como coatora, bem como a juntada da cópia da CAC e FAC atualizadas da paciente, sem prejuízo de vista dos autos à Procuradoria-Geral de Justiça.
Belo Horizonte, 31 de março de 2017.

Des. Fernando Caldeira Brant
Relator