EMENTA:
APELAÇÃO – AMEAÇA - ÂMBITO DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS – CONTINUIDADE
DELITIVA – RECONHECIMENTO - HABEAS CORPUS DE OFÍCIO – PENA DE MULTA –
DECOTE - CONCESSÃO DO SURSIS.
1-
A continuidade delitiva, prevista no art. 71 do CP, deve ser reconhecida quando
os crimes forem da mesma espécie e tiverem sido praticados nas mesmas condições
de tempo, lugar e maneira de execução.
2- O crime previsto no art. 147 do CP comina pena
corporal ou pena de multa, as quais não podem ser aplicadas cumulativamente.
3- Se
preenchidos os requisitos do art. 77 do CP, não sendo possível a substituição
da pena corporal por restritivas de direito (art. 44 do CP), deve ser concedido
o Sursis.
Apelação Criminal Nº 1.0443.17.002124-2/001 - COMARCA
DE Nanuque - Apelante(s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
MINAS GERAIS - Apelado(a)(s): JAIRO RODRIGUES DOS SANTOS
Vistos etc., acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA
CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO MINISTERIAL E, EM
HABEAS CORPUS DE OFÍCIO, CONCEDER O SURSIS E DECOTAR A PENA DE MULTA.
DES. OCTAVIO AUGUSTO DE NIGRIS BOCCALINI
Relator.
Des.
Octavio Augusto De Nigris Boccalini (RELATOR)
V O T O
Trata-se de recurso de Apelação interposto pelo Ministério
Público do Estado de Minas Gerais contra a r. Sentença (fls. 114/120), na
qual o MM. Juiz da 2ª Vara da Comarca de Nanuque julgou parcialmente procedente a Ação Penal, para condenar Jairo Rodrigues dos Santos nas sanções
do art. 147 do CP, à pena de 02 (dois)
meses e 07 (sete) dias de detenção, em regime aberto, e 22 (vinte e dois) dias-multa, absolvendo-o
do crime previsto no art. 12 da Lei
10.826/03, nos termos do art. 386, III do CPP.
Em razões recursais (fls. 148/160), o
Ministério Público pede a reforma da r. Sentença, para que o Apelado seja
condenado nas sanções do art. 147 do CP, por
três vezes, na forma do art. 71 do CP, com a consequente elevação da
pena em 1/5 (um quinto), considerando o número de infrações penais.
Contrarrazões da Defesa (fls. 162/165).
A Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer
(fls. 176/178), opina pelo conhecimento e provimento do Recurso.
É o
relatório.
Conheço do recurso, porque próprio e tempestivo.
Inexistem preliminares, tampouco nulidades
arguidas pelas partes ou que devam ser declaradas de ofício.
MÉRITO
Narra a Denúncia que:
“Consta do incluso inquérito policial que,
no dia 02 de junho de 2017, por volta das 21h20, na Rua Fortaleza, nº 242,
bairro Feirinha, nesta cidade e comarca de Nanuque/MG, Jairo Rodrigues dos
Santos, por diversas vezes, ameaçou, por palavras, causar mal injusto e grave à
Luciana de Souza Pimentel, sua ex-esposa, em contexto de violência doméstica e
familiar contra a mulher.
Consta ainda que, no mesmo contexto fático,
em sua residência na Rua Álvaro Vieira, nº 505, nesta Cidade e comarca de
Nanuque/MG, Jairo Rodrigues dos Santos possuía e matinha sob sua guarda uma
pistola semiautomática e 10 cartuchos, todos de calibre 380, arma de fogo e
munições de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação
legal ou regulamentar.
Consta dos autos que denunciado e vítima
foram casados por aproximadamente cinco anos e sempre mantiveram relação
conturbada, devido ao ciúme do denunciado. Atualmente, encontram-se separados
de fato há mais de dois meses.
Segundo se apurou, no dia dos fatos, o
denunciado seguiu a ofendida em seu horário de almoço e, no momento de sua
saída do trabalho, motivo pelo qual Luciana pediu uma carona a sua colega
Neide. No caminho, a ofendida e Neide pararam em uma farmácia, momento em que
foram abordadas pelo denunciado que disse à Luciana que se ela mandasse lhe
prender, a mataria.
Por estar com medo de ficar sozinha em casa,
a vítima foi até a casa da testemunha Neide. No momento em que estava chegando,
Jairo a segurou pelo braço, chegando a quebrar sua pulseira, sendo que Neide
interviu.
Luciana adentrou para o interior da casa,
ouvindo o denunciado dizer a sua amiga: “se eu ficar preso não tem problema, eu
fico lá uns 30 dias e depois acabo com ela”. Disse, também, que se houvesse o
divórcio, a mataria. (...)” (fls. 01d/03d).
1-
Da Condenação em Continuidade Delitiva
Inconformado com a r. Sentença, almeja o Parquet a condenação do Apelado nas sanções do art. 147 do CP, por três vezes, na forma do art.
71 do CP, com a consequente elevação da pena em 1/5 (um quinto), considerando o
número de infrações penais.
Argumenta, para tanto, que o Apelado teria,
em pelo menos três momentos distintos, proferido ameaças em desfavor da vítima
L.S.P.
Razão lhe assiste.
A
Continuidade Delitiva, prevista no art. 71 do CP, conceitua-se por um conjunto
de crimes da mesma espécie, praticados nas mesmas condições de tempo, lugar,
maneira de execução.
Tem-se que o Código Penal estabelece requisitos de ordem objetiva (mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução) e subjetiva (unidade de desígnios ou relação
de contexto entre as ações criminosas) para que seja possível o
reconhecimento da Continuidade Delitiva entre as diversas condutas, praticadas
sucessivamente.
Neste sentido,
consoante entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça, o
ordenamento jurídico pátrio adota a Teoria
Objetivo-subjetiva, para a qual se faz imprescindível a
comprovação de ambos os requisitos (objetivos e subjetivos). Confira-se:
“(...) Este
Superior Tribunal firmou o entendimento de que, para o reconhecimento e a
aplicação do instituto do crime continuado, é necessário que estejam
preenchidos, cumulativamente, os requisitos de ordem objetiva (pluralidade de
ações, mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução) e o de ordem
subjetiva, assim entendido como a unidade de desígnios ou o vínculo subjetivo
havido entre os eventos delituosos. Vale dizer, adotou-se a Teoria Mista ou
Objetivo-subjetiva. (...)” (HC 222225/SP, Relator Ministro Rogerio Schietti
Cruz – STJ – Sexta Turma, julgado em 17.03.2016).
No caso em comento, verifica-se que o Apelado
foi denunciado como incurso
nas sanções do art. 147 do CP em continuidade delitiva. Na r. Sentença, o MM.
Juiz a quo, apesar de fundamentar a
condenação no crime de Ameaça, não aplicou a Continuidade Delitiva.
Todavia, do exame das provas colhidas, é possível
constatar que o Réu teria praticado três
delitos de Ameaça, contra a vítima L.S.P., devendo ser reconhecida a regra
do art. 71 do CP.
Na fase Policial, o Apelado exerceu o direito
constitucional ao silêncio (fl. 09). Em Juízo, negou a prática dos fatos
descritos na Denúncia, contudo relatou momentos em que perseguia a vítima
(Mídia, fl. 92).
Vejamos trecho do Interrogatório Judicial:
Apelado Jairo
– Em Juízo
“(...) afirmou
que sua esposa mentia quando dizia que estava em casa, fato que só chegava a
seu conhecimento através de seus vizinhos; que após esses fatos passou a
monitorar sua esposa, mas apenas de longe; que o relacionamento com a vítima
era conturbado porque ela mentia; que já achou sua esposa nua fazendo vídeo
pornô, por isso quebrou seu celular; que descobriu que a vítima fazia parte de
um site de relacionamento chamado "Tinder"; que só ficou olhando a vítima de longe para ver até onde ela iria com a
Neide; que foi até ao restaurante para tentar conversar com a vítima; que já
viu a vítima acompanhada com a Neide e um rapaz; que ficou com medo de ter alguém
envolvido no relacionamento; que não abordou a vítima dentro da farmácia; que
não segurou a vitima pelo braço; que não ameaçou a vítima de morte; que não
subiu no muro; que foi até a residência para ouvir a conversa em que a vítima
mantinha com outro rapaz; que a policia militar lhe prendeu quando estava
próximo a casa da vítima; que foi exonerado do cargo de agente penitenciário
devido a problemas administrativos; que não houve renovação do contrato.” (fl. 92) – Negritei.
A vítima L.S.P. descreveu,
perante a Autoridade Policial (fls. 07/08), os momentos em que teriam ocorrido
as supostas ameaças proferidas pelo Apelado.
Vítima L.S.P. - IP
“(...)
que o relacionamento entre o casal sempre foi muito conturbado; habitualmente
tinha brigas, porque Jairo era muito ciumento, e não permitia sequer que a
Declarante fosse até a casa de seus parentes, além de enciumar com seu
trabalho, e de 'todo mundo'; que o autor já quebrou dois celulares da
declarante e já lhe agrediu, mas não chegou a chamar a polícia, a Declarante ia
para a casa de seus pais, e depois Jairo corria atrás, e acabavam reatando; (...)
que passados uma semana Jairo começou a mandar mensagens pelo Whatsapp e ir na
porta de seu trabalho, querendo conversar, e em resumo, passou a lhe seguir
pedindo para conversar, mas a Declarante não queria; todavia, Jairo não parou
mais, e até invadiu a casa de amiga da Declarante; que há cerca de duas
semanas, a Declarante saiu do seu trabalho na Concessionária Moto Nanu que,
quando Jairo, o qual estava escondido na esquina, surgiu bastante descontrolado
e lhe agarrou a força, querendo lhe obrigar a sentar na motocicleta (...) que
após isso, por duas vezes consecutivas, Jairo perseguiu a declarante quando
saía do seu trabalho no horário de almoço, tendo sentado junto da declarante
dentro do restaurante contra a sua vontade e insistia em conversar, mas a
declarante sempre resistindo; (...) Que,
na data de hoje, JAIRO lhe seguiu no horário de almoço, quando a Declarante
retornava para o trabalho; Que, quando a Declarante saiu do trabalho às
18:40, JAIRO 'estava lá de novo', na esquina, escondido atrás de um carro,
tendo a Declarante recuado para a Loja, e contou a sua amiga NEIDE, a qual lhe
deu uma carona, objetivando evitar uma abordagem por parte do autor; Que, no caminho, NEIDE e a Declarante
pararam numa farmácia, ocasião em que JAIRO adentrou ao local e se aproximou da
Declarante, e segurou em seu braço; Que a Declarante perguntou-lhe 'você está
querendo ser preso?', e JAIRO respondeu 'se você mandar me prender, eu te
mato'; Que a Declarante e NEIDE passaram no Banco do Brasil, e JAIRO
continuou a lhe seguir; QUE a Declarante passou em sua casa, e como lá não
havia mais ninguém, a Declarante ficou com medo de ficar sozinha, pegou umas
roupas, e foi para a casa de NEIDE; Que
JAIRO lhe seguiu até o local, e segurou o braço da Declarante, no portão da
casa de NEIDE, inclusive, sua pulseira chegou a se quebrar; Que a
Declarante se soltou e entrou na casa, enquanto NEIDE ficou lá fora conversando
com JAIRO; Que a Declarante ficou na garagem, e ficou ouvindo JAIRO dizer à NEIDE 'se eu ficar preso, não tem
problema, eu fico lá uns 30 dias, e depois acabo com ela'; Que JAIRO disse que
a Declarante ainda era esposa dele, e se divorciasse, mataria a Declarante do
mesmo jeito; Que, a Declarante e NEIDE entraram na residência e ficaram na
área de churrasco, tendo JAIRO entrado no quintal do vizinho, subiu o muro, e
de lá ficou lhes observando e falando coisas do tipo 'que a Declarante ainda
era a mulher dele, que não aceitava o fim, e etc'; Que o vizinho ameaçou chamar
a polícia, e JAIRO saiu e foi para o portão da residência, e NEIDE mais uma vez
foi aconselhá-lo; Que não tendo jeito, a
Declarante também foi lá fora tentar convencê-lo a ir embora, ocasião em que
JAIRO continuou falando as mesmas coisas e depois disse 'entenda uma coisa, eu
vou lhe matar, isso é uma ameaça', tendo a Declarante entrado na casa, e
JAIRO continuou subindo no muro, e então, a Declarante ligou para a polícia;
(...).” (fls. 07/08) –
Negritei.
Cumpre ressaltar que, nos
delitos cometidos no âmbito doméstico, a palavra da vítima assume substancial importância e quando
corroborada por outras provas, constitui prova suficiente à condenação.
A testemunha Neide de Souza Santos, na Fase Policial (fl. 04), posteriormente
confirmado em Juízo (Mídia, fls. 88 e 92), disse ter presenciado as ameaças
proferidas pelo Réu e, por diversas vezes, afirmou ter conversado com o Réu
para tentar impedi-lo de continuar com as ofensas.
Confira-se trecho do depoimento Judicial:
Testemunha Neide de Souza Santos – Em Juízo
“(...) disse
que participou de uma reunião em seu local de trabalho e que era para convidar
um parente; que levou seu filho na reunião; que depois da reunião a vitima lhe
procurou para dizer quer queria conversar; que diante da recusa momentânea, a
vitima saiu; que em seguida a vítima voltou a lhe procurar para pedir carona
dizendo que o réu estava do outro lado da rua atrás dos carros; que a vitima
disse que se separou do réu porque ele a ameaçou; que entrou no carro com a
vitima e seu filho; que conhecia o réu porque ele trabalhou na mesma loja,
porém como segurança; que a vitima pediu para parar próximo a uma farmácia; que a vitima voltou correndo da farmácia
porque o réu teria lhe abordado dentro da farmácia para conversarem; que
nesse instante a vitima disse que tinha uma medida protetiva em seu favor; que
entraram dentro do Banco do Brasil e que ao saírem puderam observar o réu
escondido próximo do local; que levou a vitima para a casa dela, mas que a vitima
ficou em pânico e não quis ficar na residência; que novamente viram o réu
escondido atrás de uma árvore; que levou a vitima para sua casa; que reduziu a
velocidade e o réu encostou junto do carro; que perguntou ao réu o porquê de
ele a seguir; que o réu disse que era porque a vítima estava dentro do veiculo
e que queria conversar com ela; que aconselhou que ambos conversassem; que a
vitima não quis conversar e demonstrava estar com medo; que quando chegou no portão de sua casa, o réu novamente estava atrás
do carro; que quando a vitima desceu do veiculo o réu avançou em seu braço,
momento em que as pulseiras quebraram; que a vitima entrou na residência e
foi para a garagem; que deu conselhos ao réu e viu que ele estava desnorteado
por amor ou porque não estava aceitando a separação; que o réu disse que iria
embora; que entrou em sua residência; que o réu pediu um copo de água; que seu
filho serviu e logo em seguida viu o réu no muro de sua residência, mas do lado
que da casa de seu vizinho; que disse para o réu sair do local; que o réu disse
que estava escutando as mentiras da vitima; que viu que o réu estava um pouco
abalado; que o réu saiu da residência de seu vizinho e foi para um terreno
baldio; que novamente o réu voltou para o muro de sua residência; que nesse
instante a vítima ligou para a polícia; que os militares chegaram e fizeram a
ocorrência; que levou a vítima para a residência dos pais dela; que enquanto
conversava com os pais da vítima, a polícia militar prendeu o réu; que a vítima disse que o réu falou que a
mataria caso fosse preso; que a vítima foi embora da cidade e não avisou para
onde iria; que não sabe do paradeiro da vítima; (...)” (fl. 92) – Negritei.
A testemunha Aurânio
Alves Martins Neto, na fase Policial (fl. 05) e em Juízo (Mídia, fls. 89 e
92), confirmou que o Apelado disse que, caso fosse preso, iria sair e mataria a
vítima L.S.P. Afirmou, ainda, que tal ameaça ocorreu por diversas vezes.
O Crime de Ameaça se caracteriza pelo fato de alguém, por palavra,
escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico,
prometer a outrem causar-lhe mal injusto e grave. Trata-se, pois, de crime
formal, sendo irrelevante a intenção do agente em realizar ou não o mal
prometido, bastando que incuta fundado temor à vítima.
Pela prova oral,
verifica-se que o Apelado e a vítima L.S.P. foram casados por, aproximadamente,
cinco anos, sendo que se encontravam separados de fato há mais de dois meses e
o Réu não aceitava o fim do relacionamento.
A vítima, na fase
Policial, descreveu os três momentos em que o Apelado teria lhe
ameaçado, dizendo
que, no horário do almoço, quando retornava ao trabalho, o Réu teria a seguido.
No mesmo dia, quando a vítima saía do trabalho, o Réu estava na porta do local.
Posteriormente, a ofendida teria pedido “carona” para Neide, sendo que, no
caminho, teriam parado em farmácia, oportunidade em que o Apelado se aproximou,
a segurou pelo braço e a ameaçou, dizendo: “se
você mandar me prender, eu te mato”. A vítima, então, teria ido para a casa
de Neide, sendo que, no portão do local, o Réu, que as teria seguido,
novamente, segurou o braço da ofendida, vindo a quebrar sua pulseira. No
entanto, a vítima teria conseguido se desvencilhar do Réu. Na ocasião, a vítima
escutou o Apelado dizer à Neide: “se eu
ficar preso não tem problema, eu fico lá uns 30 dias, e depois acabo com ela”.
A palavra da
ofendida foi corroborada pelas testemunhas presenciais Neide e Aurânio, que
destacaram que o Réu disse que “se eu
ficar preso não tem problema, eu fico lá uns 30 dias e depois acabo com ela”.
Disse, também, que se houvesse o divórcio, mataria a ofendida.
Dessa forma, pelo
contexto fático, verifica-se que o Réu teria ameaçado a vítima em três
oportunidades, sendo elas, primeiro,
no local de trabalho da ofendida, segundo,
quando chegava à farmácia, e, terceiro,
na porta da residência da testemunha Neide.
Registra-se que,
na primeira oportunidade, o Apelado ameaçou a vítima por gesto, pois estaria a
aguardando no local de trabalho tanto na hora do almoço quanto ao final do
expediente, intimidando a ofendida. Nas outras duas oportunidades (na farmácia
e na porta da casa de Neide), o Réu ameaçou a ofendida por palavras.
As ameaças teriam
ocorrido nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, em
momentos distintos, apesar de terem sido no mesmo dia, configurando-se,
portanto, a Continuidade Delitiva.
Dessa forma, cumprindo-se os requisitos do
art. 71 do CP, sendo crimes da mesma espécie, deve ser reconhecida a
Continuidade Delitiva entre os delitos de Ameaça.
2- Da Dosimetria da Pena
- Pena de multa
Registra-se que, apesar de não haver Recurso Defensivo, em
Habeas Corpus de
ofício, verifica-se que a pena de multa deve ser decotada,
pois o art. 147 CP, comina pena corporal ou
pena de multa.
Assim, passa-se à reanálise
do Critério Trifásico.
Na primeira fase
da Dosimetria da Pena, verifica-se que o MM. Juiz a quo analisou todas as circunstâncias judiciais previstas no art.
59, CP, fixando-se a pena-base em 02 (dois)
meses e 07 (sete) dias de detenção.
Na segunda fase
de fixação da pena, ausentes Agravantes e Atenuantes, razão pela
qual a pena intermediária deve ser mantida em 02 (dois) meses e 07 (sete) dias de detenção.
Na terceira
fase, ausentes causas de aumento ou diminuição da pena, razão pela
qual se concretiza as reprimendas em 02 (dois) meses e 07 (sete) dias de detenção.
- Da
Continuidade Delitiva - Crimes de lesão corporal
Diante do reconhecimento da continuidade
delitiva (art. 71 do CP) entre os crimes do art. 147, do CP, a
reprimenda deve ser elevada em 1/5 (um quinto), por serem três delitos, estabelecendo-se, definitivamente, em 02 (dois) meses
e 20 (vinte) dias de detenção.
- Do Regime Inicial de Cumprimento de
Pena
Mantém-se o regime aberto
para o cumprimento inicial da pena, conforme dispõe o art. 33, §2º, “c”, e §3º,
do Código Penal.
- Da Substituição da Pena Corporal por
Restritivas de Direito
O crime previsto no art.
147, do CP não permite a
substituição da pena corporal por restritivas de direito, pois cometido com
ameaça contra a pessoa, nos termos do art. 44, I do CP.
- Do Sursis
Por outro lado, verifica-se que o Apelado
faz jus à suspensão condicional da pena, considerando que é primário (CAC –
fls. 35/36), todas as circunstâncias judiciais foram analisadas de forma
favorável e a pena corporal não é superior a 02 (dois) anos, preenchendo,
portanto, os requisitos elencados no art. 77 do CP, in verbis:
Art. 77 - A
execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá
ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o
condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não
seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
Dessa forma, não havendo recurso Defensivo, em Habeas
Corpus de ofício, deve ser concedida a Suspensão Condicional da
Pena (Sursis), pelo prazo de 02
(dois) anos, cujas condições devem ser fixadas pelo MM. Juiz da Execução.
Diante do exposto, DOU
PROVIMENTO AO RECURSO MINISTERIAL para reconhecer
a Continuidade Delitiva, concretizando a pena do Apelado Jairo Rodrigues dos Santos em 02
(dois) meses e 20 (vinte) dias de detenção, em regime aberto (art. 33, §2º “c”,
CP) e,
em HABEAS CORPUS DE OFÍCIO, concedo o
Sursis, pelo prazo de 02 (dois)
anos, cujas condições devem ser determinadas pelo Juiz da Execução, e decoto
a pena de multa, ficando o
Apelado incurso nas sanções do art. 147, por três vezes,
na forma do art. 71, ambos do CP.
Sem custas.
É como
voto.
Des. Antônio Carlos Cruvinel (REVISOR) - De acordo com o(a)
Relator(a).
Des. Paulo Cézar Dias - De acordo com o(a) Relator(a).
SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO MINISTERIAL E,
EM HABEAS CORPUS DE OFÍCIO, CONCEDERAM O SURSIS"
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